Cuidados Paliativos em Pronto Socorro: desafios e potencialidades...
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Rev. Tec. Cient. CEJAM. 2025;4:e202540044
INTRODUÇÃO
Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde
(OMS)(1), os Cuidados Paliativos se definem a partir de uma
abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes (adultos
e crianças) e suas famílias, que enfrentam problemas associados
a doenças que ameaçam a vida. Visa a prevenção e o alívio do
sofrimento, através da identificação precoce, avaliação correta e
tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e
espirituais.
Neste cenário, a família se torna um fator essencial para a
realização dos cuidados paliativos, sendo necessário o seu
envolvimento ao longo de todo o processo. Conforme preconizado
na Norma Operacional Básica (NOB) do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS)(2), a família deve ser apoiada e ter
acesso a condições para responder ao seu papel no sustento, na
guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como
na proteção de seus idosos e portadores de deficiência.
Para Andrade(3), o êxito dos cuidados paliativos prestados ao
paciente e sua família depende de como a equipe apoia essa
unidade de cuidados e prepara os seus membros
multidisciplinares para esta intervenção. É importante existir uma
integração interdisciplinar, mesmo considerando que para cada
unidade de cuidados se faça necessária a presença de um
profissional da equipe que esteja diretamente envolvido na
situação, o assim chamado “gestor de caso”. Esse será o principal
elo de comunicação com a família, o que é valorizado pelos entes,
principalmente por possibilitar um vínculo de confiança, evitando
ainda as contradições nas informações.
Nesse processo, a comunicação é decisória para os cuidados
com o paciente e familiares. Para Silva(4), uma comunicação
efetiva favorece meios de ajudar o paciente a esclarecer os seus
problemas e melhor enfrentá-los, com participação ativa no
processo de tomada de decisão e na busca de alternativas para
soluções dos problemas reais ou potenciais. De acordo com a
autora, além de auxiliá-lo a desenvolver novos padrões de
comportamento, também possibilita o ressignificado de sua vida.
Deste modo, o estudo objetiva trazer elementos da relevância
da Reunião Familiar para a adesão e gerenciamento dos cuidados
paliativos em pronto socorro, provocando por meio de um estudo
de caso, reflexões, sobre os desafios e potencialidades da reunião
familiar.
MÉTODO
Desenho, período e cenário
Trata-se de um artigo de reflexão assistido pela evidência da
literatura e prática profissional. A abordagem exploratória e
reflexiva seguiu os seguintes passos: delineamento da pesquisa,
preparação e coleta dos dados da literatura, Reflexão sobre
atividade prática e atendimentos de pessoas e elaboração da
redação final.
O objeto do estudo tomou por base o contexto de atendimento
de casos de cuidados paliativos na unidade de internação do
Pronto Socorro de um hospital público municipal da região sul da
Cidade de São Paulo, uma região caracterizada por alta e altíssima
vulnerabilidade social.
O hospital é referência em traumas, neurocirurgia e
bucomaxilofacial e Psiquiatria. O Hospital abrange um distrito
conhecido pela presença de uma grande vulnerabilidade social.
RESULTADOS
Reflexão
Conforme preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS)(5),
foi estabelecido um fluxo assistencial para promover uma
organização da Rede de Atenção à Saúde; rede esta que é
composta pela atenção básica e especializada. A primeira tem
como referência a Unidade Básica de Saúde (UBS), onde seu
principal objetivo é realizar intervenções direcionadas à
prevenção e promoção à saúde. Seguindo com a atenção
especializada, composta pelos ambulatórios e hospitais, sendo
estes divididos em cuidados de média e alta complexidade.
Tendo em vista que a presente reflexão está circunscrita a
unidade hospitalar, é importante pensar em sua formatação, uma
vez que a função principal é realizar os primeiros socorros, diante
de uma doença / trauma que ameace a vida e precise de
intervenções mais complexas e imediatas.
Ao adentrar em um pronto socorro, o paciente é tratado por
sua queixa principal, sendo as condutas dirigidas a estabilização
do quadro clínico, tratamento, monitorização e encaminhamentos
para os setores de enfermaria, para recuperação e,
posteriormente, quando alta hospitalar, encaminhamento para
rede assistencial para continuidade de cuidados.
Em um cenário de demandas emergenciais, percebe-se que há
pouco espaço para a escuta do doente, bem como de sua família,
uma vez que a atenção está direcionada para a resolução da
queixa. A comunicação é realizada nos boletins médicos, que
ocorrem diariamente e os familiares têm a oportunidade de
esclarecer suas dúvidas e terem notícias atualizadas.
Nesses serviços, os profissionais emergências enfrentam vários
desafios: frequentemente, não contam com prontuário eletrônico
para entender melhor a evolução da doença; muitas vezes, não
conseguem conversar com o médico responsável pelo
atendimento longitudinal do paciente; são obrigados a tomar
decisões sob a pressão do tempo e, comumente, de escassez de
recursos(6:22).
Diante disso, o cenário hospitalar evidencia as muitas vezes
em que há ruídos na comunicação, seja por mudanças de
profissionais / plantonistas ou até mesmo pela rotina dinâmica
das unidades, além da condição emocional do receptor, que por
vezes está fragilizada e não retém o que lhe foi passado.
Percebe-se que essa lacuna se faz presente de forma muito
significativa quando falamos em comunicação de más notícias,
dentre elas os cuidados paliativos.
Conforme levantado por Ribeiro e Filho(6), muitas vezes a
escassez de tempo se torna uma justificativa para que o assunto
não seja abordado. Porém, eles seguem dizendo o quanto cada
momento durante a internação pode ser utilizado de forma
efetiva, para que o paciente expresse seus desejos e possa
compartilhar com a família.
Em um estudo realizado por Santana e Colaboradores(7), foram
apresentados dados relacionados a importância de o assunto ser
tratado de forma precoce em um pronto socorro, mostrando
melhora na qualidade de vida do paciente e proposta de
intervenções terapêuticas condizentes com seus desejos e
valores.
A implantação dos Cuidados Paliativos em urgência e
emergência, pode beneficiar pacientes e equipes assistenciais
com a diminuição de conflitos, melhora na comunicação,
atendimento humanizado e qualidade assistencial paciente(8).