Impacto do nível de atividade física e velocidade de marcha na mobilidade funcional...
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Rev. Tec. Cient. CEJAM. 2025;4:e202540042
aumento na classificação de risco de quedas com impactos diretos
na qualidade de vida, além da redução da função física. Tais
aspectos refletem em características do âmbito psicológico com
diminuição da autoconfiança e medo de cair, contribuindo com o
aumento na incidência de lesões por quedas(31-33).
Paradoxalmente, vale destacar a importância de intervenções
que promovam a mobilidade, estando em consonância com a
literatura atual(31-32), que aponta que longos períodos de
inatividade podem aumentar os prejuízos na agilidade e execução
de tarefas básicas diárias em idosos, um problema crítico que
também ocorre no processo de reabilitação de pacientes pós-AVC.
Indivíduos com sequelas motoras decorrentes de AVC tendem
a permanecer mais restritos e em posição sentada por períodos
prolongados ao longo do dia. English et al(34) ao comparar essa
população com indivíduos saudáveis pareados por sexo e idade,
observaram maior prevalência de comorbidades, menor
engajamento em atividades diárias e percepção reduzida de
produtividade entre aqueles que mantinham postura sedentária.
Métodos semelhantes foram descritos em Souza et al(35) e em
nosso estudo, o qual, embora não tenha incluído grupo controle,
também identificou que o comportamento sedentário está
intrinsecamente relacionado a baixa tolerância ao esforço físico.
A análise também revelou uma correlação negativa entre o
nível de atividade física, medido pelo IPAQ, e a velocidade de
marcha. Este resultado indica que participantes com níveis mais
elevados de sedentarismo estão associados a uma menor
velocidade de marcha, reforçando a necessidade de estratégias
para aumentar a atividade física em indivíduos com hemiparesia
espástica. Este resultado impõe a perspectiva de que indivíduos
mais sedentários tendem a ter uma marcha mais lenta, o que
pode comprometer sua independência nas atividades diárias.
Scrivener et al(36) corroboram essa relação, demonstrando que a
atividade física regular não apenas melhora a velocidade de
marcha, mas é um fator crucial para a recuperação funcional em
pacientes que sofreram um AVC.
Os resultados do presente estudo apoiam as evidências
apresentadas por Park et al(37), que demonstraram que o
comprometimento motor dos membros inferiores em indivíduos
pós AVC impõe limitações significativas à execução de atividades
funcionais básicas, como levantar-se de uma cadeira e
deambular. No atual contexto, a avaliação por meio do teste
Timed Up and Go (TUG) impõe esta atividade de levantar-se de
uma cadeira e deambular, refletindo prejuízos com interferência
direta do déficit motor sobre o desempenho funcional.
A literatura destaca que tais restrições estão embasadas no
contexto da diminuição da força muscular de membros inferiores,
deficiência a qual compromete a capacidade de realizar atividades
de forma independente(37). De maneira convergente, nossos
achados reforçam que a diminuição da independência funcional
está associada não apenas à perda de mobilidade, mas também
a fatores secundários, como a redução da autonomia gerando
impactos no contexto social. Esses achados sustentam a
importância de programas de reabilitação física baseados em
intervenções voltadas à recuperação motora e ao fortalecimento
da autonomia e da autopercepção de competência funcional.
Por fim, a literatura enfatiza intervenções direcionadas que
integram a promoção da mobilidade e da atividade física como
essenciais para a recuperação funcional. Rimaud et al(38)
elucidaram o impacto que o gasto energético diário em pessoas
com sequelas motoras provenientes do AVC e seus impactos na
qualidade de vida, reforçando a necessidade de condutas que
insiram facilitadores em suas rotinas. Os autores testaram uma
hipótese utilizando diferentes órteses de tornozelo e pé para
diminuir o gasto energético diário, visando maximizar a
independência e, consequentemente, melhorar a qualidade de
vida de pessoas com deficiências físicas.
Uma alternativa que atribui essa evidência voltada a
funcionalidade é o uso da CIF como ferramenta de classificação
para ponderar possíveis deficiências e capacidades da população
estudada. A fim de estabelecer objetivos direcionados e centrados
nos aspectos biopsicossociais como Silva et al(12) fizeram em seu
estudo obtendo resultados relevantes na implantação de um
checklist em seu serviço, cujo resultado contribuiu para uma
melhor estruturação dos processos terapêuticos e na melhoria de
seus acompanhamentos, garantindo a importância do tratamento
centrado no paciente.
Portanto, uma vez que nossos instrumentos de avaliação são
pautados no modelo biopsicossocial, podemos acompanhar o
impacto e benefícios dos níveis de atividade física relacionados ao
nível de independência funcional, classificando assim, o nível de
funcionalidade. Assim, este estudo não apenas corrobora achados
anteriores, mas também ressalta a importância de intervenções
holísticas de caráter amplo com uma visão biopsicossocial, a fim
de promover funcionalidade e independência.
Embora os achados deste estudo apresentam relevância
clínica suficiente para contribuir com a hipótese inicial de
correlação entre nível de atividade física, velocidade de marcha e
risco de quedas em indivíduos com hemiparesia espástica, há
algumas limitações metodológicas a serem consideradas. Por se
tratar de um estudo observacional, não houve comparação
intergrupos e o tamanho amostral foi reduzido. Isto restringe a
generalização dos resultados e compromete parcialmente a
validade externa do presente estudo. Portanto, recomenda-se que
futuras pesquisas sejam conduzidas com amostras mais amplas,
heterogêneas e com diferentes populações. Tais avanços são
fundamentais para consolidar evidências científicas que orientem
condutas mais assertivas com maior potencial de impacto clínico.
Limitações do Estudo
O questionário internacional de atividade física (IPAQ) não é
validado para a população com prejuízos na mobilidade devido ao
AVC, não levando em consideração as deficiências de funções e
estruturas corporais como presença de espasticidade, diminuição
de força muscular e alterações perceptuais.
No presente estudo não houve comparação entre grupos
controle e experimental a fim de estabelecer dados de referência
para determinar os resultados observados.
Sugere-se viés avaliativo por se tratar de um estudo
transversal e correlação, onde não é possível estabelecer medidas
de causa e efeito, visto que estudos com corte único tem como
principal objetivo descrever a prevalência de uma condição em
uma população específica e em um determinado momento.
Contribuições para a Ciência
Podemos estabelecer contribuições positivas potenciais que
abrangem duas áreas distintas, os pesquisadores e a comunidade
participante: Relatar para a comunidade cientifica a evolução e
curso da influência da pratica de atividades físicas em indivíduos
com lesões neurológicas; Resolução de problemas baseado na
assistência à saúde; Contribuição técnico-cientifica aos
pesquisadores; Influenciar os participantes à pratica de atividades
físicas e; Orientar os participantes quanto a gravidade do risco de
quedas e seus potenciais funcionais com embasamento em suas
próprias classificações de mobilidade.