Rev. Tec. Cient. CEJAM. 2024;3:e202430001
CEJAM
Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
Rua Dr. Lund, 41, Liberdade
São Paulo/SP - CEP: 01513-020
11 3469-1818
revista.cientifica@cejam.org.br
Autoria
André Ramalho
1,2,3
ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-8099-3043
Instituição
¹
Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim
(CEJAM), São Paulo, SP, Brasil.
2
Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de
Saúde (CINTESIS), Porto, Portugal.
3
Departamento Medicina da Comunidade, Informação e
Decisão em Saúde (MEDCIDS), Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
Autor Correspondente
André Ramalho
e-mail: <andre.ramalho@cejam.org.br>
Como citar este artigo
Ramalho A. Desafiando as Publicações Predatórias:
A Busca por Evidências Confiáveis para a Prática em
Saúde. Rev. Tec. Cient. CEJAM. 2024;3:e202430021.
DOI:
https://doi.org/10.59229/2764-9806.RTCC.
e202430021
.
SubmissãoAprovação
10/02/202415/04/2024
Editorial
Desafiando as Publicações Predatórias: A Busca por
Evidências Confiáveis para a Prática em Saúde
Challenging Predatory Publications: The Search for Reliable Evidence for
Health Practice
A ascensão das publicações predatórias no âmbito da pesquisa científica
constitui um desafio significativo para a integridade acadêmica e a tomada de
decisão baseada em evidências na saúde. Estes periódicos, que priorizam o lucro
em detrimento da qualidade e do rigor científico, comprometem a confiabilidade das
informações disponíveis para profissionais da saúde, pesquisadores e formuladores
de políticas. Grandes instituições e revistas reconheceram e retificaram publicações
recentemente, que foram detectadas como fraude – entre estas a Harvard University
e a Revista Lancet.
O modelo de negócios das publicações predatórias explora a pressão sobre
os pesquisadores para publicar seus trabalhos (
publish or perish
– publique ou
pereça), muitas vezes sem uma revisão por pares adequada. Este fenômeno não
apenas desvaloriza o esforço dos pesquisadores sérios, mas também polui o corpo
de conhecimento científico com informações duvidosas ou errôneas.
A disseminação de evidências frágeis ou duvidosas é particularmente
problemática na saúde, onde as decisões baseadas em tais informações podem ter
implicações diretas na vida dos pacientes. A implementação de protocolos clínicos
baseados em tais evidências pode resultar em práticas ineficazes ou até prejudiciais,
aumentando o risco para os pacientes e desperdiçando recursos valiosos.
Além disso, a pressão para publicar pode levar à criação de protocolos de
tratamento prematuros ou baseados em conclusões apressadas, sem a devida
verificação ou replicação dos resultados. Essa prática não apenas falha em avançar
o conhecimento científico, mas também pode prejudicar a credibilidade da pesquisa
médica e da prática clínica.
A educação dos profissionais de saúde e dos pesquisadores sobre como identificar
periódicos predatórios é crucial. Eles devem ser encorajados a consultar bases de
dados confiáveis e a verificar as políticas de revisão por pares dos periódicos antes
de considerar publicar ou utilizar suas publicações como base para a tomada de
decisão clínica.
Importante destacar que a busca por evidências de alta qualidade não deve
se limitar exclusivamente a metanálises da Cochrane. Embora estas sejam
reconhecidas pela sua rigorosa metodologia, muitas revisões sistemáticas (com
e sem metanálises) de alta qualidade são publicadas por outros periódicos sérios
e respeitáveis. Essas publicações também devem ser consideradas valiosas na
construção de protocolos clínicos e na prática baseada em evidências.
A colaboração entre instituições acadêmicas, agências de financiamento e
editores é necessária para promover padrões editoriais elevados e combater as
práticas predatórias. Iniciativas como a criação de selos de qualidade, a verificação
de práticas de revisão por pares e a educação sobre ética na publicação podem
contribuir significativamente para este esforço.
O desenvolvimento de ferramentas e recursos que ajudem a identificar
periódicos confiáveis é igualmente importante. Plataformas como o
Directory of
Open Access Journals
(DOAJ) e critérios como os estabelecidos pelo
Committee on
Publication Ethics
(COPE) podem auxiliar pesquisadores e profissionais da saúde a
Desafando as Publicações Predatórias: A Busca por Evidências Confáveis para...
Rev. Tec. Cient. CEJAM. 2024;3:e202430001
2
CEJAM
Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
Rua Dr. Lund, 41, Liberdade
São Paulo/SP - CEP: 01513-020
11 3469-1818
revista.cientifica@cejam.org.br
navegar o complexo ambiente das publicações científicas.
O compromisso com a transparência na pesquisa e na
publicação científica é fundamental. A divulgação de conflitos
de interesse, a disponibilização de dados brutos para revisão e
a publicação de resultados negativos são práticas que podem
ajudar a garantir a integridade da pesquisa científica.
A luta contra as publicações predatórias é uma responsabilidade
compartilhada por toda a comunidade científica. Instituições
de ensino e pesquisa, sociedades profissionais e indivíduos
devem unir esforços para promover uma cultura de integridade
acadêmica e científica.
Identificar publicações predatórias pode ser uma tarefa
desafiadora, especialmente para aqueles que não dominam o
método científico. Este desafio é ampliado na área da saúde,
onde a prática clínica é fundamentada em evidências concretas e
confiáveis, essenciais para construir o conhecimento sobre o qual
os profissionais baseiam suas práticas. A falta de familiaridade
com os princípios da pesquisa científica pode levar à aceitação
inadvertida de informações duvidosas como base para decisões
clínicas, comprometendo a qualidade do cuidado ao paciente.
A afirmação: “não preciso saber de ciência para praticar saúde”,
é incompatível com os padrões éticos da prática contemporânea
na área. A capacidade de discernir entre fontes confiáveis e
predatórias é indispensável, visto que a implementação de
práticas baseadas em evidências duvidosas pode resultar em
consequências negativas para os pacientes e serviços de saúde. É
imperativo que profissionais da saúde possuam um entendimento
básico do método científico, permitindo-lhes avaliar a validade,
a precisão e a confiabilidade das pesquisas que influenciam suas
práticas clínicas.
É indiscutível que o impacto financeiro e econômico gerado
por publicações predatórias vai além da deterioração da qualidade
investigativa, afetando profundamente a área da saúde. Decisões
clínicas pautadas em dados não validados podem desencadear
a adoção de terapias ineficazes, inflacionando os gastos com
procedimentos médicos supérfluos e prejudicando a distribuição
eficaz de recursos dentro do sistema de saúde. Essa dinâmica
não apenas esgota financeiramente as instituições de saúde, mas
também compromete a qualidade do atendimento ao paciente,
reforçando a urgência de abordar e mitigar essa questão.
A educação continuada em metodologia de pesquisa é
fundamental para todos os profissionais de saúde. Instituições
de ensino e organizações profissionais têm um papel crucial
em fornecer os recursos necessários para o desenvolvimento
dessas competências. Ao aprimorar a capacidade de avaliação
crítica das fontes de informação, os profissionais de saúde
podem assegurar que suas práticas sejam sempre baseadas nas
melhores evidências disponíveis, mantendo o compromisso com
a segurança e o bem-estar do paciente.
Ao fortalecer a literacia sobre boas práticas de publicação e
ao promover a utilização de informações de fontes confiáveis, é
possível mitigar os riscos associados às publicações predatórias.
Este é um passo crucial para garantir que a tomada de decisão em
saúde continue a ser baseada em evidências sólidas e confiáveis,
preservando assim a segurança do paciente e a eficácia da prática
médica.
O Efeito Dunning-Kruger destaca uma distorção cognitiva
onde indivíduos com conhecimento limitado sobre um tema
superestimam sua competência, enquanto aqueles mais
informados tendem a subestimar suas habilidades. Na saúde, isso
pode ser visto quando profissionais confiam excessivamente em
sua autoridade técnica sem embasamento científico atualizado,
negligenciando a importância da evidência científica recente.
Esse cenário é perigoso, pois mesmo profissionais altamente
especializados e formados nas melhores instituições podem cair
na armadilha de acreditar que sua formação inicial os capacita
completamente, desconsiderando novas descobertas e avanços
científicos que desafiam suas práticas atuais.
A confiança excessiva na própria autoridade e formação
pode impedir profissionais de saúde de buscar e integrar novas
evidências científicas em suas práticas. Este comportamento não
só limita o crescimento profissional, mas também compromete
a qualidade do cuidado ao paciente. A área da saúde está
em constante evolução, e a prática clínica deve ser dinâmica,
adaptando-se à medida que novas descobertas são feitas.
É crucial que os profissionais de saúde adotem uma
abordagem humilde e analítica, reconhecendo as limitações
do seu conhecimento e a necessidade de atualização contínua.
O uso adequado e analítico da evidência científica, aliado a
uma constante autoavaliação e busca por aprendizado, são
fundamentais para garantir que a prática de saúde seja baseada
nas informações mais atuais e confiáveis, promovendo assim o
bem-estar dos pacientes com base em um entendimento científico
sólido e atualizado.
A conscientização e a ação proativa são essenciais para
combater as práticas predatórias e assegurar a qualidade da
pesquisa. Com a colaboração e o compromisso de todos, podemos
criar um ambiente de pesquisa mais ético, confiável e benéfico
para a saúde pública e o bem-estar dos pacientes.
Para encontrar exemplos específicos de revistas ou publicações
predatórias atuais, recomendo visitar diretamente as fontes
confiáveis e plataformas de pesquisa acadêmica que mantêm
registros atualizados dessas publicações. Uma boa prática é
consultar bases de dados reconhecidas, listas críticas como as
listas “
Beall’s List
” e “
Cabell’s List
”, ou recursos acadêmicos que
oferecem orientações sobre como identificar essas revistas,
além da conferência de autores, obras e revistas por meio de
plataformas como o
ResearchGate
,
Google Scholar
,
ORCID
,
Plataforma Lattes
, entre outras. Também é útil verificar as políticas
editoriais, o processo de revisão por pares e a transparência das
taxas de publicação das revistas ao avaliar a sua credibilidade.
Sobre a RTCC
A Revista Técnico-Científica CEJAM (RTCC) se destaca
no universo acadêmico como uma plataforma essencial para
a divulgação científica, especialmente focada na gestão e
assistência à saúde. Operando sob a filosofia do acesso aberto, a
RTCC facilita a propagação do conhecimento científico, tornando-o
livre e gratuitamente disponível para estudantes, profissionais
da saúde e pesquisadores. O rigor na seleção de conteúdos,
baseado em um meticuloso processo de revisão por pares, reflete
o compromisso da revista com a excelência acadêmica. Além
disso, sua aderência às diretrizes do Comitê Internacional de
Editores de Revistas Médicas (ICMJE) e ao Comitê de Ética em
Publicação (COPE) sublinha uma dedicação inabalável à ética e
integridade na pesquisa adotando práticas transparentes, a RTCC
exige o registro ORCID de todos os autores, garantindo assim
a autenticidade e a responsabilização dos trabalhos publicados.
Desafando as Publicações Predatórias: A Busca por Evidências Confáveis para...
Rev. Tec. Cient. CEJAM. 2024;3:e202430001
3
CEJAM
Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
Rua Dr. Lund, 41, Liberdade
São Paulo/SP - CEP: 01513-020
11 3469-1818
revista.cientifica@cejam.org.br
Essa iniciativa, juntamente com a clara política de declaração de
conflitos de interesse, estabelece um padrão de transparência e
confiabilidade. A revista não apenas segue as normativas éticas
para pesquisas com seres humanos, alinhadas à Declaração de
Helsinque, mas também promove a integridade científica ao
exigir o registro de ensaios clínicos e a adesão a diretrizes de
pesquisa reconhecidas. Através destas práticas, a RTCC não só
contribui para a expansão do acesso ao conhecimento científico,
mas também assegura que este conhecimento seja produzido e
compartilhado com o mais alto grau de ética e responsabilidade.